Por Cadu Freitas, g1 CE


Vídeos mostram outras pessoas entrando com alimentos na loja da Zara em Fortaleza, no caso da delegada Ana Paula Barroso.

Vídeos mostram outras pessoas entrando com alimentos na loja da Zara em Fortaleza, no caso da delegada Ana Paula Barroso.

A Polícia Civil do Ceará abriu uma nova investigação para apurar outro suposto crime de racismo cometido contra uma assistente administrativa, em julho deste ano, no interior da loja Zara, em Fortaleza. A vítima fez um comentário em uma rede social, foi procurada pelos investigadores e confirmou ter passado por situação semelhante à da delegada Ana Paula Barroso.

O g1 entrou em contato com a assessoria de imprensa da Zara e aguarda resposta sobre o novo inquérito.

A delegada foi impedida de entrar na loja da Zara em 14 de setembro deste ano. A Polícia Civil indiciou o gerente da loja, Bruno Filipe Simões Antônio, pelo crime de racismo, na última terça-feira (19). A loja alega que Ana Paula não usava máscaras e tomava um sorvete quando entrou no local, mas a investigação apontou que pessoas brancas entraram da mesma forma e não foram barradas.

O delegado-geral da Polícia Civil, Sérgio Pereira, afirmou que a loja usava o código sonoro "Zara zerou" nos alto-falantes internos para indicar aos funcionários quais clientes deveriam ser vistos como "suspeitos em potencial". Esses clientes eram negros e usavam vestimentas simples, segundo ele.

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A abertura do novo inquérito foi determinada pela titular da Delegacia de Defesa da Mulher de Fortaleza, Manuela Lima da Costa. O despacho manda ser investigado suposto crime de racismo cometido na loja contra uma assistente administrativa de 27 anos.

A jovem foi convocada a prestar depoimento no âmbito do inquérito que apurou o caso de racismo cometido contra a delegada. Ela fez um comentário em uma rede social e foi procurada pelos investigadores para narrar o seu próprio caso.

"Considerando que a narrativa apresentada pela testemunha pode-se extrair indícios de suposto crime de racismo em sua forma consumada [...] determino a instauração de novo procedimento policial para investigar o suposto crime de racismo cometido", escreveu a delegada Manuela Lima da Costa.

Como ocorreu esse caso

Loja de Fortaleza está no centro de duas investigações sobre suposto crime de racismo. — Foto: Divulgação

Em depoimento dado no dia 27 de setembro, a assistente administrativa disse que o seu caso foi bastante similar ao da delegada. Assim que entrou na Zara, também com uma casquinha de sorvete, foi abordada por um funcionário do estabelecimento. Ela disse ao g1 que "não chegou a dar três passos" quando foi indicado que se retirasse.

"Um rapaz moreno, baixo, 'um rapaz bonito', estava vestindo uma calça bem justa e tinha uma identificação como funcionário da loja que foi logo abordando e dizendo que não era permitido a entrada na loja de pessoas sem máscaras e pediu para sair da loja", disse à Polícia Civil.

A jovem afirmou ter saído da loja em seguida. Contudo, resolveu esperar com uma amiga o seu chefe e uma colega de trabalho do lado de fora da loja. Mas não demorou muito para avistar um grupo de adolescentes — todos brancos —, sem máscaras, entrarem e permanecerem no local sem nenhum problema. "O mesmo rapaz [que me barrou] viu e não fez nada".

'Postura discriminatória', diz delegada sobre 'Zara zerou'

Delegada vítima de racismo fala pela 1ª vez após conclusão de inquérito

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A delegada Ana Paula Barroso afirmou, nesta quinta-feira (21), que o código sonoro "Zara zerou" é uma “postura discriminatória”.

“Até para minha surpresa, adveio a questão deste código. O código por si ele já demostra uma postura, uma fala discriminatória, onde há uma seletividade de pessoas. Para algumas pessoas o atendimento é um, para outras o atendimento é outro. Isso por si só já demonstra discriminação”, afirmou.

Ela afirmou ainda que hoje tem um sentimento de alívio por ter conseguido provar que houve discriminação por parte do estabelecimento.

“Meu sentimento neste momento agora é de alma lavada. Sentimento de paz . Sempre eu estive certa do que estava dizendo e agora tenho sensação de paz neste aspecto. Aqueles que duvidaram, está aí a prova. Não tem o que questionar. Agora a Ana Paula não é o centro desta discussão. Não deve ser. Eu só fui um objeto de um instrumento. Um instrumento de Deus neste processo todo”.

Possíveis penas

Delegada denuncia unidade da loja Zara em Fortaleza por racismo. — Foto: Reprodução

O crime de racismo pode gerar reclusão de um a três anos e multa ao funcionário suspeito de cometer a discriminação racial, e também punição cível à loja, segundo a Comissão de Promoção da Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará (OAB-CE).

A lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que define e pune casos de racismo prevê que tanto o estabelecimento quanto a loja podem sofrer punições judiciais, explica Tharrara Rodrigues, integrante da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da OAB-CE.

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