Por mais otimista que seja, não há como imaginar que a economia brasileira vai se recuperar sob o atual governo. O presidente joga contra. Não pensa. Quando fala o que pensa, mostra que não pensa. O ministro da Economia, Paulo Guedes, antes visto como guru do desenvolvimento, não passa de um vendedor de otimismo sem fundamento. Vive (ou faz de conta que vive) num mundo da fantasia, onde o Brasil está decolando. O independente Banco Central de Roberto Campos Neto não está servindo para quase nada. A estabilidade econômica foi para o brejo, o câmbio alimenta a metástase da inflação e os preços sobem como em tempos de guerra. Aumentar juros e irrigar o mercado com reservas têm sido tão ineficazes quanto remédio de verme no combate à Covid. São placebos para doentes terminais. O BC se tornou em uma fábrica de relatórios e projeções que nunca se cumprem.

A culpa é da pandemia? Em parte, sim. É responsabilidade dos governadores? Evidentemente, cada um tem a sua parcela de responsabilidade. Os problemas vêm de fora? Alguns, sim. Mas a tempestade perfeita na economia é resultado, principalmente, da incompetência de Jair e sua turma. São ruins no que fazem, no que falam, no que pensam. Tem astronauta na ciência com Orçamento zero. Tem ministro da Saúde, sem saúde, que não defende vacina para não magoar o chefe. Tem ministra dos Direitos Humanos que aparenta desconhecer quais são os Direitos Humanos. Tem ministro das Comunicações que mais desinforma do que comunica. Quando todos se juntam ao líder, é hora de tirar as crianças da sala.

Ao analisar individualmente o micro, fica fácil de compreender o macro. É aí que a tese de que a economia, assim como todo o restante do Brasil, não vai sair do lugar. Nesta sexta-feira (15), o popularmente conhecido “proxy mensal do PIB”, o índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br), apresentou expansão de 4,7% em agosto, na comparação anual, o equivalente a uma contração de 0,15% na comparação com o mês anterior. O mercado, pelos dados coletados pela Bloomberg, previa uma retração de -0,08%. O índice foi prejudicado pelas quedas da indústria e do varejo em agosto, mas parcialmente compensado pela performance positiva do setor de serviços, que continua se beneficiando do otimismo com a vacinação e da redução gradual das medidas de isolamento social.

Para o próximo ano, a perspectiva de desemprego ainda elevado e a antecipação do ajuste monetário devem pesar negativamente sobre os investimentos e sobre a recuperação da economia. O cenário é de que os problemas vão continuar até, pelo menos, a metade do ano que vem. O pífio crescimento de 1,54% do PIB em 2022 (Boletim Focus) já está em revisão para 1,2% ou 1,3%. A falta de matérias-primas, o descontrole da inflação e o ambiente de incertezas no campo político, fazem do País uma fonte constante de instabilidade. Ou seja, a fantástica fábrica de boas notícias só existe na cabeça de Guedes e Bolsonaro. A realidade é outra. Quem está acostumado a altos e baixos e, agora, acredita em recuperação econômica antes de 2023, é melhor já ir desacostumando.