A erupção do vulcão Cumbre Vieja, nas Ilhas Canárias, na Espanha, gerou imagens impressionantes e tem causado grandes prejuízos na região. O evento, registrado pela primeira vez depois de 50 anos, deixou seis mil moradores desalojados na área atingida pela lava e cerca de 320 edifícios destruídos. O vulcão continua em plena atividade, algo que pode se prolongar por meses. Mas os movimentos sísmicos foram localizados e não causaram um imenso desmoronamento de terra, o que levaria a um fenômeno com grande impacto destrutivo, como se chegou a cogitar, capaz de causar um tsunami no Brasil. Os transtornos causados pela intensificação da atividade do Cumbre Vieja são imensos e a agência espanhola de meteorologia aponta para a possibilidade dos gases vulcânicos, como o dióxido de enxofre, causarem chuva ácida na região.

“É quase impossível acontecer um tsunami a partir de uma erupção nas Ilhas Canárias” Vinícius Louro, geofísico da USP (Crédito:Divulgação)

“Nas Ilhas Canárias há um vulcanismo mais básico, com menos sílica e menos explosivo, como acontece no Havaí”, afirma o geofísico Vinícius Louro, professor do Instituto de Geociências da USP. “Para se formarem ondas gigantes com força para chegar ao continente americano seria necessário um deslocamento de um volume imenso de terra, algo quase impossível de acontecer naquelas condições.” Em 2001, um estudo aventou a hipótese de que uma erupção no Cumbre Vieja poderia causar um tsunami nas Américas. Um ano depois, porém, o sismólogo George Pararas-Carayannis, presidente da Tsunami Society International, considerou a hipótese exagerada. Segundo ele, um colapso de tais proporções “é extremamente raro e nunca aconteceu na história registrada”. A teoria voltou a ser cogitada na semana passada por causa de um trabalho de conclusão de curso (TCC) de autoria de Mauro Reese Filho, da Universidade Federal do Paraná.

Há relatos de um tsunami no litoral brasileiro causado pelo terremoto que destruiu Lisboa em 1755, matando dezenas de milhares de pessoas. Na ocasião, as ondas gigantes teriam atravessado o Atlântico e avançado cerca de uma légua (6 quilômetros) no território brasileiro. Cartas da época tratam do fenômeno e confirmam que algo realmente aconteceu. Não é completamente impossível que algo parecido se repita com o Cumbre Vieja, mas é mais provável, caso a erupção se prolongue, que a região das Ilhas Canárias se torne um polo de turismo vulcânico.