Por G1


Queiroga diz que cidades iniciaram vacinação de adolescentes antes do tempo

Queiroga diz que cidades iniciaram vacinação de adolescentes antes do tempo

O ministro Marcelo Queiroga disse nesta quinta-feira (16) que a decisão de restringir a vacinação de adolescentes contra Covid-19 apenas aos grupos prioritários (deficiência permanente, comorbidades e privados de liberdade) tem relação com a falta de evidências científicas consolidadas sobre o benefício da imunização para este grupo.

"O Ministério da Saúde pode rever a posição desde que haja evidência científica sólida. Por enquanto, por questão de cautela, temos eventos adversos a serem investigados, temos adolescentes que tomaram vacinas que não estavam recomendadas, temos que acompanhar", disse o ministro.

Queiroga citou que mais de 3,5 milhões de adolescentes já foram vacinados no Brasil de forma "intempestiva", ou seja, sem a autorização do Plano Nacional de Imunizações, que previa a aplicação apenas entre os prioritários desta faixa etária (12 a 17 anos) a partir de 15 de setembro.

Segundo Queiroga, 1,5 mil adolescentes apresentaram eventos adversos, o que representa 0.042% do total.

"Não é um número grande, mas temos que ficar atentos", disse Queiroga.

O ministério informou que acompanha o caso da morte de um adolescente no estado de São Paulo. Ele morreu depois de tomar o imunizante da Pfizer, mas ainda não há conclusão se há relação com a vacina ou mesmo se ele tinha outras comorbidades.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) diz que investiga, mas que não há evidências contra a autorização para aplicação da vacina, que segue liberada sem restrições para todos os adolescentes desta faixa etária.

A maioria dos eventos adversos citados pelo governo, 93%, ocorreu no público que tomou imunizantes sem autorização para uso em adolescentes. No Brasil, a Anvisa liberou, em junho, apenas a aplicação da Pfizer a partir dos 12 anos sem restrições. Não há outra vacina permitida para esta faixa etária.

O governo federal diz que os estados aplicaram doses de todas as outras vacinas além da Pfizer: AstraZeneca, CoronaVac e Janssen.

A decisão sobre os adolescentes é diferente da tomada em maio. Naquela ocasião, foi a Anvisa que recomendou a suspensão da aplicação da vacina AstraZeneca em grávidas. À época, a investigação sobre morte de uma gestante fez o Minstério da Saúde acatar a indicação e autorizar apenas a CoronaVac ou a vacina da Pfizer para aquele público.

VÍDEO: O que se sabe sobre vacinação em crianças e adolescentes

VÍDEO: O que se sabe sobre vacinação em crianças e adolescentes

Segunda dose vetada e argumentos

Queiroga esclareceu que os adolescentes sem comorbidades que já tomaram a 1ª dose não devem tomar a segunda.

A recomendação britânica foi tomada com base em um efeito colateral raríssimo provocado pela vacina da Pfizer: uma inflamação no coração chamada de miocardite. O governo britânico diz que vai aguardar mais estudos.

Por outro lado, o próprio ministro Queiroga admitiu que já há indicações de que o risco de miocardite associado à Covid-19 é maior do que o associado à vacinação com os imunizantes que usam a tecnologia mRNA.

A Anvisa disse em julho que acompanhava os relatos de miocardite, sobretudo nos mais jovens após a segunda dose, mas esclareceu que mantinha a recomendação da imunização com a vacina da Pfizer. Na mesma época, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que os casos eram raros e que os benefícios superavam os riscos.

Epidemiologista critica suspensão da vacina para adolescentes

Epidemiologista critica suspensão da vacina para adolescentes

Secretários defendem vacinação

Um dia antes da decisão do ministério, na quarta-feira, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), que participa das decisões sobre os rumos do Plano Nacional de Imunizações, afirmou que a "vacinação de todos os adolescentes é segura e será necessária".

Nesta quinta, o Conass e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) solicitaram posicionamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre a vacinação de adolescentes.

‘Um desastre’, diz Gonzalo Vecina sobre decisão da Saúde de recuar na vacinação de adolescentes

‘Um desastre’, diz Gonzalo Vecina sobre decisão da Saúde de recuar na vacinação de adolescentes

Ministério x OMS

Ao anunciar o recuo em nota informativa, o ministério ressalta que os adolescentes sem comorbidades formariam o "último subgrupo elegível para vacinação e somente vigoraria a partir do dia 15 de setembro".

Em uma das suas justificativas para deixar de prever o público amplo, a pasta argumentou que a "Organização Mundial de Saúde não recomenda a imunização de criança e adolescente, com ou sem comorbidades".

Entretanto, a afirmação não corresponde ao posicionamento da entidade. A OMS afirma que "crianças e adolescentes são menos propensos a ter complicações por causa da doença", mas na sequência não traz indicação contrária: diz apenas que a vacinação ampla deste público é "menos urgente" do que vacinar outros grupos, como pessoas mais velhas, com comorbidades e trabalhadores da saúde.

No Brasil, o imunizante da Pfizer é o único que tem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser aplicado nesta faixa etária. Pelo mundo, outras vacinas já são aplicadas em menores de 18 anos.

Margareth Dalcomo: ‘Portaria é uma infelicidade e não atende ao momento epidemiológico do Brasil’

Margareth Dalcomo: ‘Portaria é uma infelicidade e não atende ao momento epidemiológico do Brasil’

Governo lista outros argumentos

Ainda em sua "nota informativa", o Ministério da Saúde destacou que a "maioria dos adolescentes sem comorbidades" não sofrem de casos graves da doença, que há "somente um imunizante" avaliado em ensaios clínicos, e que "os benefícios da vacinação em adolescentes sem comorbidades ainda não estão claramente definidos".

Por fim, o governo ressalta a "redução na média móvel de casos e óbitos (queda de 60% no número de casos e queda de mais de 58% no número de óbitos por covid-19 nos últimos 60 dias) com melhora do cenário epidemiológico".

O ministério não explicou sobre se a decisão tem relação com a falta de imunizantes disponíveis para avançar com o ritmo da vacinação no Brasil.

VÍDEOS: veja mais notícias sobre a vacinação

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!