Por Vanessa Ortiz, G1 Santos


Pai de Kelvin Hoefler pede desculpas aos vizinhos nas redes pelos tempos de criança do skatista — Foto: Reprodução/Redes sociais

A conquista do skatista brasileiro Kelvin Hoefler, que levou a primeira medalha do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio 2020, foi motivo de orgulho para a família. Em uma postagem nas redes sociais neste domingo (25), o pai do atleta afirmou que não dava para acreditar que o filho é medalhista olímpico, e chegou a pedir desculpas pelo barulho de skate nos tempos em que o atleta treinava na calçada da casa onde morava em Guarujá, no litoral de São Paulo.

A celebração pela conquista de Kelvin tem um gosto diferente para os familiares, já que ele é o primeiro brasileiro a participar da final olímpica do skate, incluído no programa olímpico pela primeira vez na edição de 2021. O atleta conquistou prata no street masculino ao somar 36,15 na grande final, ficando atrás apenas do japonês Yuto Horigomi, que somou 37,18. O americano Jagger Eaton completou o pódio com uma nota geral de 35,35.

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A final digna de Olimpíadas e performance estelar do filho fez com que o pai, Enéas Rodrigues, relembrasse onde o atleta começou a trilhar seu caminho pelo esporte: a calçada da casa em que vivem os pais, em Vicente de Carvalho, e ainda pedir desculpas pelo barulho de skate quando Kelvin era criança. “Ele começou andando na calçada de casa, onde eu peço desculpas aos vizinhos pelos barulhos. Sei que demoramos para pedir desculpas, mas esta conquista também é de todos vizinhos e amigos de Vicente de Carvalho e região, uma conquista do skate brasileiro”, finaliza.

Em entrevista ao G1, o pai de Kelvin, Enéas Rodrigues, contou que o filho iniciou no skate quando ainda era criança. O menino tinha tempo e lugar certo para treinar, justamente para não incomodar a vizinhança (veja acima). "A gente tinha controle de horário, não deixava ele ficar até tarde da noite e não era todo dia. Começava a anoitecer, já parava. Ele treinava no quintal de casa quando chovia, e em dia de tempo bom, andava na calçada", explica.

O pai afirma que, devido aos barulhos do skate nos tempos de menino de Kelvin, decidiu pedir desculpas aos vizinhos, mesmo que eles nunca tenham reclamado. "A gente percebia que eles ficavam um pouco nervosos com o barulho do skate, mas como o Kelvin era pequenininho, não era tão perturbador", diz ele. Apesar disso, ainda segundo Enéas, a vitória do filho também foi motivo de orgulho para os vizinhos, que viram o rapaz crescer e comemoraram a medalha de prata durante a madrugada. "Os vizinhos estavam acompanhando. Tinha muita gente na rua", diz ele.

Família celebrou junta a conquista de Kelvin nas Olimpíadas — Foto: Vanessa Faro/G1

O pai ainda explica que a família não estava muito esperançosa com a vitória de Kelvin, pois ele havia se machucado recentemente, mas que confiou no talento do filho. "A sensação foi muito legal. A gente não esperava que o Kelvin chegasse na final porque estava muito difícil, mas com muita garra, ele chegou até o final. A gente conhece ele pela garra que ele tem. O orgulho não é só nosso", finaliza.

Introvertido

Após Kelvin levar a medalha de prata, a ausência de uma comemoração no perfil da skatista Letícia Bufoni, que também participa dos Jogos de Tóquio, intrigou os fãs. Ao não festejar, ela foi questionada sobre o porquê, e admitiu nas redes sociais que não é tão próxima do medalhista, mas disse que o compatriota mereceu a medalha. Nos stories, ela disse que "ele nunca está com a gente nos 'rolês', nunca faz parte das nossas atividades por uma opção dele".

Ela ainda afirmou que ninguém tem nada contra ele, e que os atletas estavam comemorando que o Brasil ganhou uma medalha. "Respeito muito a história dele, mas, infelizmente, ele não gosta de estar com a gente. Um exemplo grande é que a CBSK, que é a confederação de skate, não pode nem marcar ele, porque ele bloqueou a CBSK", disse Bufoni.

Kelvin chegou a admitir que se afastou da atleta, da qual já foi próximo. "A gente perdeu um pouco do contato. É a mesma família, sou mais pacato, mais no meu canto, bem quieto na minha, não gosto muito de ficar extrovertido, extravasando tudo, sou mais quieto, gosto de analisar as coisas", relatou.

Em entrevista à TV Tribuna, afiliada da Rede Globo, o pai do skatista confirmou a versão do filho, dizendo que ele é diferenciado dos outros atletas, e que ele mesmo passou isso ao medalhista. "Eu sempre fui muito disciplinador. Ele é diferenciado dos outros atletas. Fica separado e não anda com eles. Não sai na bagunça, fica no cantinho dele, observa, treina, dorme cedo, se alimenta bem. Ele sempre foi assim", explica. Enéas ainda afirma que algumas pessoas não entendiam o jeito introvertido do filho.

"Achavam que skate não precisava disso [disciplina], mas eu já tinha uma noção de que o skate ia chegar nisso. Muitos não acreditavam que o skate ia ser um esporte olímpico. Uma vez, eu fui a um evento de skate com ele, ele tinha 14 anos, e um narrador falou que skatista não é atleta. Eu falei que ele ia ser um atleta. 'Você não vai ser só skatista, você vai ser um atleta'. Hoje, graças a Deus, ele é um atleta de verdade", finaliza o pai.

Tempos de Guarujá

Kelvin nasceu no dia 10 de fevereiro de 1994, na cidade de Itanhaém, também no litoral de São Paulo, mas foi em Guarujá que viveu grande parte da sua infância e adolescência. Segundo o pai, o atleta ganhou o primeiro skate quando tinha 8 anos, e no ano seguinte já estava participando de campeonatos do esporte.

Kelvin Hoefler mostra a medalha de prata que conquistou no skate street masculino nos Jogos Olímpicos de Tóquio neste domingo (25) — Foto: Toby Melville/Reuters

O menino tinha uma pista improvisada no quintal de casa, e aos 13 anos, começou a ganhar alguns prêmios com o skate. "Meu pai me levava para as pistas de skate nos finais de semana. Ele era policial, foi difícil conciliar tudo isso. Na cozinha, minha mãe me xingava, quebrando panela, prato", afirma Kelvin em entrevista para a TV Globo.

Em 2011, ele foi para a Europa competir como skatista profissional, onde ganhou três campeonatos locais. Em 2014, ele venceu o Kimberley Diamond Cup, realizado na África do Sul. No mesmo ano, ele se mudou para Los Angeles, na Califórnia, onde vive atualmente com a esposa e fotógrafa, Ana Paula.

De lá para cá, Kelvin foi campeão mundial de skate seis vezes. Para as competições, ele usa os fones de ouvido para não ser importunado por ninguém, mas não escuta nenhuma música. Além de despistar quem estiver por perto, o atleta se concentra nas rotinas dos adversários. "Foi difícil chegar aqui e representar uma nação. Isso aqui [a medalha] é um alívio. Eu acreditei, o skate me abraçou e disse: 'Kelvin, estamos juntos'".

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