Por Catarina Costa, G1 PI


Faxineira que pulou de prédio após ser estuprada disse que não consegue mais trabalhar — Foto: Catarina Costa/G1

A mulher de 29 anos, que pulou da sacada de um apartamento após ser estuprada, em Teresina, contou que o seu trabalho como faxineira era a única fonte de renda da família, mas desde a violência sexual, sofrida durante o trabalho, ela não consegue mais trabalhar. Segundo ela, a família vem sobrevivendo de doações.

A vítima tem dois filhos e o marido, cardiopata, está desempregado. Ela disse que não consegue mais dormir direito e lembra constantemente da violência que sofreu.

"Desde que aconteceu isso comigo, eu não consegui mais dormir ou trabalhar. Na hora que eu fecho os olhos, vem aquela cena na minha cabeça. Às vezes acordada vem a imagem daquele homem grande me agarrando e eu entro em desespero", contou, emocionada.

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Dez dias depois do crime, a faxineira ainda não tem advogado de defesa e vem recebendo apoio psicológico no Centro de Referência Esperança Garcia (CREG). Ela revelou que teme pela soltura do suspeito do crime, o advogado Jefferson Moura da Costa.

"Eu fico com medo, ele é advogado, a família dele tem dinheiro, eu sou uma pessoa pobre. Mas se eu souber que ele foi solto, eu vendo a minha casa de um cômodo e vou me embora com os meus filhos e o meu marido. Tenho medo dele matar minha família e eu, ele sabe onde a gente mora", declarou a vítima.

Mais vítimas e faxineira participa de protesto

Outras vítimas denunciam e faxineira participa de protesto contra a agressões a mulheres — Foto: Catarina Costa/G1

Nessa sexta-feira (23), a vítima participou de uma marcha em defesa das mulheres promovida pelo Projeto Dance Balance, no bairro Vila Maria, na Zona Leste de Teresina. Com faixas e cartazes, as moradoras caminharam pela Avenida Zequinha Freire e destacaram a importância das vítimas de violência denunciarem os seus agressores.

Vítima relatou ataque e ameaças após o estupro

Diarista vítima de estupro dá detalhes de como tudo aconteceu

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A faxineira disse que saltou do 2º andar porque o advogado, Jefferson Moura da Costa fez ameaças de morte e disse que ia estuprá-la novamente. Segundo ela, ele ameaçou atirar no rosto dela, usou uma faca para intimidá-la e falou que as pessoas não acreditariam nela, caso denunciasse o estupro.

A vítima contou que o advogado foi à casa de sua sogra em busca de uma diarista, após indicação de vizinhos. Como estava precisando de dinheiro para comprar um remédio, ela aceitou o serviço. Desconfiada, a faxineira chegou a pedir para tirarem foto da placa do carro do advogado, mas o homem já tinha ganhado a confiança da família.

Ao chegar ao condomínio, a vítima percebeu que o advogado tentou escondê-la para que não fosse vista pelo porteiro. Ao entrar no apartamento, o suspeito trancou a porta e a levou até a cozinha, para explicar as tarefas.

"Ele falou que era casado e precisava de tudo limpo antes que a esposa chegasse de viagem. Era um apartamento normal, até que eu entrei no primeiro quarto, e o chão estava cheio de camisinhas usadas e não tinha peças de roupa. No segundo quarto, tinha o dobro de camisinhas e lubrificantes. Nesse momento eu sabia que seria estuprada. Pensei em pular pela janela, mas era muito alto", comentou.

Ao retornar para a sala, a diarista disse que se deparou com o advogado se masturbando e com um livro nas mãos. A vítima contou que correu para o quarto e o advogado fingiu que iria sair do apartamento. Ela disse que quando virou de costas, o suspeito a imobilizou.

"Ele me agarrou, tirou minha roupa e dizia que iria tirar um espírito de dentro de mim. Falava que nenhuma mulher prestava e se quisesse me matar dava um tiro na minha cara. Eu gritava pedindo socorro, mas ninguém me escutava. Eu pedia, 'meu Deus me ajude'", lembrou a faxineira chorando.

'Disse que ia me estuprar de novo'

Após o ato de violência, a faxineira contou que o advogado mandou ela se vestir e terminar a faxina, e disse que depois iria estuprá-la novamente. Em seguida, pegou uma faca na cozinha para ameaçá-la e voltou para o sofá.

"Eu me ajoelhei e prometi que não iria entregar ele para a polícia, caso me deixasse ir para casa. Ele falou que eu poderia falar, mas ninguém acreditaria, porque ele era um homem poderoso. Até ali eu não sabia quem era ele", disse.

Enquanto fingia que fazia a limpeza no apartamento, a vítima disse que procurava uma alternativa para fugir. Em um momento de distração do advogado, ela escalou a varanda e a grade do ar condicionado do vizinho, até pular para o térreo do condomínio. O momento foi registrado pelas câmeras de segurança do prédio (assista ao vídeo abaixo).

Vídeo mostra momento em que diarista corre para varanda de apartamento

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Na fuga, a mulher esbarrou no porteiro e contou ter sido estuprada pelo advogado, mas o homem não acreditou. Um morador de um prédio vizinho viu o desespero dela, prestou socorro e chamou a polícia.

"Eu estava tão desesperada, pedia ajuda para as pessoas na rua e ninguém acreditava em mim. Falavam que eu estava drogada. Mas esse morador pediu para eu me acalmar, falou que acreditava em mim e me deu abrigo até a polícia chegar", declarou, emocionada.

De acordo com a polícia, ao chegarem ao prédio onde o advogado mora, os policiais militares o flagraram com outra mulher, que também era faxineira. Ele e a vítima foram conduzidos para a Central de Flagrantes de Teresina.

A vítima passou por testes no Serviço de Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual (Samvvis) que confirmaram o estupro.

Registro da OAB suspenso e pedido de transferência

Na segunda-feira (19), a defesa de Jefferson Moura Costa solicitou à Justiça a transferência do advogado da Penitenciária Regional Irmão Guido para uma sala de Estado Maior, ou, na falta de uma, que seja determinada a prisão domiciliar dele.

Jefferson Moura Costa faz parte da Comissão de Defesa dos Direitos do Consumidor da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional Piauí, que decidiu suspender o registro dele. Depois do ocorrido, a entidade abriu um processo disciplinar, através do Tribunal de Ética e Disciplina, para investigar a conduta do suspeito.

A defesa de Jefferson Moura Costa, o advogado Lucas Ribeiro Ferreira, entrou com o pedido para que o suspeito seja transferido de forma imediata para uma cela de Estado Maior. Segundo ele, o fato de Jefferson ter dito o registro suspenso pela OAB por 90 dias, não tira dele os direitos como advogado.

No pedido, feito por meio da Ordem dos Advogados do Brasil - Secção Piauí (OAB-PI), é citado um dos direitos do advogado que é o de não ser preso, antes de sentença transitada em julgado, de outra forma a não ser em sala de Estado Maior, ou, na falta disso, em prisão domiciliar.

"O magistrado decidiu por ouvir o secretário de Justiça, que se manifestou informado que o Jefferson encontra-se em uma cela especial, local inapropriado para ele estar, por conta da prerrogativa dele de ser advogado. O juiz determinou, então, a manifestação do Ministério Público a respeito do nosso pedido", explicou o advogado Lucas Ribeiro Ferreira.

Sobre os outros crimes contra Jefferson, o advogado respondeu que acompanha as investigações.

Advogado responde por homicídio

Advogado Jefferson Moura Costa foi preso suspeito de estuprar uma faxineira, em Teresina. — Foto: Reprodução/Redes sociais

O advogado Jefferson Moura Costa, responde pelo homicídio do cabo do Exército Arione de Moura Lima, ocorrido em abril de 2010, no município de Picos, Sul do Piauí.

De acordo com o processo, na noite do dia 25 de abril de 2010, o advogado atirou no peito da vítima, que estava na calçada de casa, no bairro Paraibinha (Cohab). Jefferson chegou a ser preso após o crime, mas acabou sendo colocado em liberdade e, 11 anos depois, o caso ainda não foi julgado.

O acusado estava respondendo em liberdade quando, em novembro de 2014, a Justiça avaliou um pedido de prisão preventiva do Ministério Público. No pedido, o MP afirmava que após ser solto o réu havia se envolvido em um acidente automobilístico na Bahia, que resultou na morte de duas pessoas.

O órgão disse ainda que o advogado foi preso em flagrante em Teresina por corrupção ativa, desacato e porte ilegal de arma de fogo. O MP acreditava que caso continuasse em liberdade o acusado poderia comprometer a ordem pública. O pedido foi negado pelo juiz Nilcimar R. De A. Carvalho, da 5ª Vara da Comarca de Picos.

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