Por Thais Pimentel, G1 Minas — Belo Horizonte


Operação apura relação entre donos de pousadas e atingidos por barragem da Vale em Macacos

Operação apura relação entre donos de pousadas e atingidos por barragem da Vale em Macacos

Cerca de 40% das 216 pessoas que recebem benefício de hospedagem e alimentação da Vale por causa do risco de rompimento da barragem B1/B2, em Macacos, distrito de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, estariam cometendo fraude com a ajuda de empresários da região. A estimativa é da Polícia Civil.

Das 13 pousadas pagas pela mineradora para abrigar famílias que tiveram que ser retiradas de suas casas em fevereiro de 2019, três estavam completamente vazias nesta sexta-feira (23), quando a polícia cumpriu mandatos no distrito.

De acordo com denúncia que chegou à polícia pelo Ministério Público, os R$ 20 mil pagos mensalmente por cada família estariam sendo divididos entre donos de pousadas e atingidos que nem sequer vivem nos estabelecimentos.

Vale realiza obras para descomissionar a barragem B3/B4 em Macacos, na Grande BH — Foto: João Borges/ Arquivo pessoal

“O dono da pousada, em conjunto com o ‘hóspede’, entraria em um acordo chamado de ‘rachadinha’. Como a Vale paga o valor diretamente para a pousada, o dono divide o dinheiro com o atingido, que simula a hospedagem", disse o delegado Rodrigo Otávio.

O gasto mensal chega a R$ 24 milhões. Desde 2019, quando as famílias foram obrigadas a sair de suas casas, o valor pago foi de mais de R$ 500 milhões.

As investigações da polícia apontam que muitos dos atingidos estão morando em casas de parentes ou pagando aluguéis mais baratos, mas continuam recebendo o benefício. Há donos de pousadas que chegaram a comprar imóveis e veículos de luxo neste período.

“Há casos de atingido que montou uma sala de massagem terapêutica dentro do quarto e vai à pousada apenas para atender clientes. Há outro caso em que um casal fingiu se separar para ganhar dois benefícios, em vez de um”, disse o delegado.

Alguns dos atingidos procurados pelo G1 disseram desconhecer a prática.

Em nota, A Vale informou que "as famílias em Macacos foram ouvidas e puderam escolher se seriam alocadas em pousadas, hotéis ou imóveis alugados. Atualmente, 78 famílias permanecem em hotéis e pousadas de Macacos e Belo Horizonte. A empresa informa que está à disposição para colaborar com as investigações".

Morte de criança

João Vitor morreu depois de se afogar em piscina de pousada no distrito de Macacos. — Foto: Reprodução/Redes sociais

A polícia indiciou o dono de uma pousada e parentes de uma criança de dois anos que morreu afogada em uma piscina em maio de 2019.

O menino de dois anos, os cinco irmãos e os pais estavam hospedados no local desde fevereiro.

Porém, a polícia acusa a família de negligência, já que não havia ninguém por perto no momento do acidente.

Evacuação

Moradores do distrito de São Sebastião das Águas Claras são obrigados a sair de suas casas — Foto: Rodrigo Cunha/G1

Mais de 200 pessoas foram obrigadas a deixar suas casas por precaução com a Barragem B3/B4, da Mar Azul, da Vale, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em fevereiro de 2019.

De acordo com a Defesa Civil, auditores que fazem a leitura da barragem atestaram para instabilidade. Ela tem aproximadamente 3 milhões de m³ de rejeito. A estrutura é a montante, mesmo modelo das de Brumadinho e de Mariana.

Segundo os bombeiros, o plano de emergência retirou em fevereiro moradores de 49 casas.

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