Por Flávia Borges, G1 MT


Isabele Guimarães Rosa, de 14 anos, morreu ao ser atingida por tiro na cabeça no condomínio Alphaville, em Cuiabá. — Foto: Instagram/Reprodução

Por unanimidade, os desembargadores da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso decidiram substituir a internação da adolescente de 15 anos, acusada de matar a amiga da mesma idade, Isabele Ramos Guimarães, em um condomínio de luxo de Cuiabá em julho deste ano, por medidas cautelares. O caso corre em segredo de Justiça.

A adolescente deverá recolher-se em casa no período noturno, fins de semana e nos dias de folga. Além disso, ela não pode fazer uso de substância alcoólica e similares.

Para a defesa da família da adolescente, “a decisão que confirmou o estado de liberdade da menor acompanha a robustez da prova que vem sendo produzida em seu favor na instrução processual. As circunstâncias que antecederam o trágico acidente estão devidamente comprovadas e a família confia na futura decisão que adequará os fatos a sua correta qualificação jurídica.”

O Ministério Público Estadual (MPE) apresentou alegações finais e se manifestou pela condenação da adolescente de 15 anos por ato infracional análogo ao crime de homicídio doloso, quando há intenção ou assume o risco de matar.

O pedido de internação seria pelo prazo de 6 meses, podendo chegar a três anos. A cada seis meses são feitas as verificações da conveniência da continuidade ou baixa da medida socioeducativa de internação.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê que menores que cometem atos infracionais análogos a crimes hediondos – como estupro e homicídio qualificado – sejam internados.

Os pais da adolescente que matou Isabele já são réus pelos crimes de homicídio culposo (quando não há intenção de matar), posse ilegal de arma de fogo, entrega de arma de fogo a pessoa menor, fraude processual e corrupção de menores.

O crime

Isabele Guimarães Ramos foi morta aos 14 anos na casa da amiga — Foto: Instagram/Reprodução

Isabele morreu com um tiro no rosto em 12 de julho deste ano, em um condomínio de luxo de Cuiabá, onde morava a amiga, de 15 anos. O disparo foi feito pela adolescente, que, durante as investigações, alegou ter sido acidental.

Logo depois da morte de Isabele, a polícia ouviu a amiga da vítima. Ela alegou que subiu até o quarto dela, que fica no andar de cima do sobrado onde Isabele morreu, para guardar a arma do namorado. Isabele estava no banheiro do quarto nesse momento.

Segundo ela, uma das armas caiu no chão e a adolescente tentou pegar, mas se desequilibrou ao levantar e o objeto acabou disparando, quando ela estava do lado de fora de banheiro. No entanto, essa versão foi contestada por laudos periciais.

Para a polícia, a versão apresentada pela adolescente era incompatível com o que aconteceu no dia da morte e a conduta dela foi dolosa, porque, no mínimo, ela assumiu o risco de matar a vítima.

Além da adolescente, o namorado dela, de 16 anos, também foi indiciado por ato infracional análogo ao porte ilegal de arma de fogo, porque transitou armado sem autorização. Ele levou as armas para a casa da namorada, onde ocorreu o crime.

As armas eram do pai dele. Por causa disso, o pai dele também foi indiciado. Segundo a polícia, mesmo tendo alegado que não tinha conhecimento de que as armas tinham sido levadas pelo filho, ele foi indiciado por omissão de cautela na guarda de arma de fogo, já que teria obrigação de guardar as armas em local seguro.

Cena alterada

Isabele Guimarães — Foto: Reprodução / TV Globo

Para a polícia, o empresário pai da adolescente teve uma conduta que pode ter atrapalhado a investigação. “Quando a equipe do Samu chegou (na casa), havia apetrechos de armas em cima da mesa e ele pediu para que a mulher guardasse. Isso não poderia ter sido alterado”, disse o delegado Wagner Bassi, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que conduziu a investigação.

A cápsula da bala que atingiu a adolescente na cabeça também foi movimentada depois do crime pelo filho dele, que é irmão gêmeo da adolescente que atirou, o que pode ter atrapalhado a investigação.

Quatro policiais, sendo um delegado, dois investigadores da Polícia Civil, e um policial militar que foram até a casa depois do crime são investigados por improbidade administrativa.

Reconstituição

Reconstituição da morte de Isabele Ramos é realizada na casa onde adolescente morreu

Reconstituição da morte de Isabele Ramos é realizada na casa onde adolescente morreu

A reconstituição da morte de Isabele foi feita entre 18 e 19 de agosto, na casa da menina que atirou. O processo durou sete horas, e a adolescente não participou. A defesa alegou que ela não estava em condições psicológicas.

A jovem que atirou foi representada por uma atriz que tinha estatura e pesos compatíveis.

Foram reproduzidos todos os movimentos realizados pelos envolvidos no caso para apontar a compatibilidade das versões apresentadas na investigação. A simulação foi feita com três disparos.

A reprodução também contou com um grupo de 41 profissionais entre investigadores, escrivães, delegados e peritos.

Reconstituição da morte de Isabele Ramos — Foto: Polícia Civil

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!