Por Carolina Cruz, G1 DF


Artistas e produtores culturais protestam pela distribuição de recursos da Lei Aldir Blanc no DF — Foto: Carolina Cruz/G1

Artistas e produtores do Distrito Federal realizaram, na tarde desta segunda-feira (23), uma manifestação em frente à Biblioteca Nacional, em Brasília, reivindicando a execução integral dos benefícios da Lei Aldir Blanc, que prevê repasses para a cena cultural como forma de amenizar impactos da pandemia do novo coronavírus. O grupo teme que benefícios não sejam pagos por pendências por parte do poder público.

A Lei Aldir Blanc conta com cerca de R$ 37 milhões em recursos do governo federal para custear auxílio emergencial para pessoas físicas e jurídicas. No entanto, o uso da verba, encaminhada em setembro, depende da incorporação do repasse da União no orçamento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF.

Um projeto de lei com esse objetivo foi aprovado pela Câmara Legislativa (CLDF) na última terça-feira (17) e aguarda a sanção por parte do governador Ibaneis Rocha (MDB). Ao G1, a Secretaria de Cultura informou que o PL recebeu emendas orçamentárias durante sua tramitação na Câmara e, por isso, a lei não pode ser sancionada na semana passada.

"Para que volte à mesa do governador, é preciso parecer técnico-jurídico de cada emenda junto à Secretaria de Economia, que já comunicou ter dado prioridade à análise", disse a Secretaria de Cultura.

A legislação prevê o pagamento de três linhas de crédito. No entanto, a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec) regulamentou apenas duas delas.

A pasta informou que a implementação do terceiro benefício depende da sanção da lei distrital, quando então poderá executar os recursos da União. Isto porque, atualmente, o órgão utiliza recursos do orçamento aprovado no início do ano para adiantar os pagamentos, o que é insuficiente.

O GDF tem até o dia 31 de dezembro para utilizar os recursos. Pela lei, o que não for executado até lá deve ser devolvido à União.

Manifestação

Artistas e produtores culturais protestam pela distribuição de recursos da Lei Aldir Blanc no DF — Foto: Carolina Cruz/G1

O protesto dos artistas e produtores do Distrito Federal ocorre no mesmo dia em que o secretário de cultura, Bartolomeu Rodrigues, se reuniu com representantes do Comitê Consultivo da Lei Aldir Blanc, formado por membros do governo e da sociedade civil. Os representantes da cena cultural que fazem parte do grupo afirmam que o encontro desta segunda-feira ocorreu após quase dois meses sem qualquer contato.

“Ficamos sem qualquer informação nesse período, de como estava a execução dos recursos. Nem tão pouco que o projeto de lei estava na mesa do secretário da Economia”, conta Rita Andrade, conselheira de Cultura do DF.

Artistas e produtores culturais protestam pela distribuição de recursos da Lei Aldir Blanc no DF — Foto: Arquivo pessoal

Para Rita, houve "descaso do governo" na demora do envio do projeto de lei à CLDF. "É uma falta de empatia absurda com o momento extremamente dramático que o setor inteiro está vivendo" afirma ela.

"Não é novidade pra ninguém que o setor cultural é um dos mais afetados pela pandemia. Estamos sem trabalhar e os que estão indo trabalhar se expõem ao risco", diz a conselheira.

Veranne Cristina, representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Conselho Consultivo, teme que o atraso possa impedir a distribuição do recurso. "A OAB vem trabalhando nesta lei desde maio. É com muita tristeza que eu não acredito que o GDF vai conseguir executar o recurso em menos de 38 dias", aponta.

Pagamentos pendentes

Artistas e produtores culturais protestam pela distribuição de recursos — Foto: Carolina Cruz/G1

Em junho deste ano, o Congresso Nacional aprovou a Lei Aldir Blanc, que prevê três tipos de auxílio:

  • Linha 1: pagamento de uma renda emergencial aos trabalhadores da cultura em três parcelas de R$ 600 (valor passa para R$ 1,2 mil no caso de mãe e provedora do lar);
  • Linha 2: subsídio mensal de R$ 3 mil a R$ 10 mil para manutenção de micro e pequenas empresas e demais organizações comunitárias culturais e também de espaços artísticos que tiveram que paralisar as atividades por causa da pandemia;
  • Linha 3: realização de ações de incentivo à produção cultural, como a realização de cursos, editais, prêmios.

No DF, a Secretaria de Cultura realizou as inscrições para o pagamento das linhas 1 e 2. Já a linha 3 ainda não possui regulamento. A pasta afirma que depende da sanção do projeto de lei aprovado pela CLDF na última semana, que vai garantir o recurso.

Na linha 1, que é o repasse de R$ 600, a pasta afirma que houve a inscrição de 3.130 pessoas. No entanto, apenas 660 foram aprovadas.

Destas, apenas 186 começaram a receber os valores em outubro. A Secretaria de Cultura afirma que as demais estão com "pendências no cadastro", como erros na identificação da conta bancária. A versão é negada pelos beneficiados (saiba mais abaixo).

De acordo com a pasta, o número reduzido de beneficiados é devido aos critérios rígidos para o recebimento do auxílio. Entre eles está o não recebimento do auxílio emergencial do governo federal, além da comprovação de ter atuado social ou profissionalmente nas áreas artística e cultural há pelo menos dois anos.

Com o pequeno grupo de inscritos com cadastro sem pendências, a Secretaria de Cultura ampliou o número de repasses do auxílio para cinco, no total.

Já na linha 2, a Secretaria de Cultura ainda está em processo de análise dos 1.129 cadastros. Destes, 50 começaram a receber repasses na última semana.

Para a linha 3, a pasta afirma que aguarda a sanção do projeto de lei distrital para definir o valor do recurso e critérios.

Sem auxílio

Enquanto o governo afirma que há cadastros com pendências, há beneficiados que contam outra versão. Neide Nobre, de 53 anos, produtora cultural, afirma que foi aprovada para receber o auxílio de R$ 600, mas não recebeu qualquer valor mesmo com a inscrição regular.

"Eles falam sobre essas pendências, mas não é o meu caso. Não recebi qualquer mensagem", diz a produtora cultural.

Neide, que trabalha com eventos culturais há mais de 30 anos, cobra mais transparência por parte da pasta. "Há falta de comunicação. Informação é poder e nós estamos sem o nosso direito", lamenta.

VÍDEOS: mais vistos do G1 em 1 minuto no DF

Leia mais notícias sobre a região no G1 DF.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!