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“Libelu”: documentário explica origem e papel do grupo Liberdade e Luta

Atuação foi decisiva na rearticulação da União Nacional dos Estudantes durante a ditadura

Libelu
A Libelu foi decisiva na rearticulação da União Nacional dos Estudantes. Foto: Acervo A Libelu foi decisiva na rearticulação da União Nacional dos Estudantes. Foto: Acervo
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Na tela do festival É Tudo Verdade, um personagem define o grupo Liberdade e Luta, motivo do documentário Libelu – Abaixo a Ditadura, do diretor e jornalista Diógenes Muniz: “Foi a primeira tendência que decidiu gritar ‘abaixo a ditadura’ nas ruas”. Era 1977, e pela primeira vez desde 1968 a ditadura civil-militar tinha de enfrentar a saída das passeatas das universidades para as ruas. O grupo Libelu havia sido criado em 1976, na USP, e àquela altura deixava as assembleias na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) para ganhar o centro paulistano. Vinda da “vitória” de dizimar a luta armada, a ditadura teria de engolir, a partir de 1977, a rearticulação da União Nacional dos Estudantes (UNE).

 

O documentário remonta essa história por intermédio de depoimentos dos protagonistas. Entre os então ativistas de esquerda entrevistados, estão personagens que hoje pertencem a nichos bastante diversos do espectro ideológico, entre eles o ex-ministro petista da Economia Antonio Palocci, o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, os jornalistas Alex Antunes, Cadão Volpato, Cleusa Turra, Demétrio Magnoli, Eugênio Bucci, José Arbex Jr., José Genulino Moura Ribeiro, Laura Capriglione, Paulo Moreira Leite, Renata Rangel, Ricardo Melo, o dirigente sindical Júlio Turra, o dirigente petista Markus Sokol, o crítico gastronômico Josimar Melo… 

“Será que alguém é stalinista hoje?”, pergunta a arquiteta Anne Marie Sumner, ecoando sem querer uma discussão bastante vívida nestes tempos militares-bolsonaristas. Outra figura a dar alguma atualidade ao filme é o coronel Erasmo Dias, o caricato militar encarregado da repressão aos manifestantes de 1977. 

Hoje diretor de redação de CartaCapital, o jornalista Mino Carta abre o documentário num vídeo da época, cunhando uma definição para os libelu: “Um grupo de jovens elegantes, iconoclastas, talvez um tanto mal-humorados” (ao longo do filme surgirão trechos de sua entrevista com os dirigentes estudantis). Eugênio Bucci define a aventura como “adolescente”. O jornalista hoje direitista Reinaldo Azevedo demarca repetidas vezes que teve atuação periférica no movimento. 

Libelu elogia e critica o movimento encerrado em 1982 pelas entrelinhas, por intermédio da edição e das falas (e críticas) dos próprios personagens. Giannetti da Fonseca atribui “insignificância” ao movimento. Palocci, em prisão domiciliar, discursa contra a corrupção. Estabelece-se a discussão sobre se os libelus eram burgueses e sobre o fato de grande número deles ocupar atualmente postos no establishment nacional. Explica-se que a organização política originadora da Libelu se transformou, mais tarde, na tendência O Trabalho, do PT. Talvez isso ajude a decifrar a antipatia de parte dos personagens pelo movimento que ajudaram a criar. 

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