Blog da Sandra Cohen

Por Sandra Cohen

Especializada em temas internacionais, foi repórter, correspondente e editora de Mundo em 'O Globo'


Andrew Cuomo durante entrevista coletiva, em 23 de março de 2020 — Foto: Mike Segar/Reuters

Enquanto o estado de Nova York assume a posição de epicentro da pandemia do novo coronavírus nos EUA, com metade dos casos do país, seu governador, Andrew Cuomo, finca o pé como o líder nacional na resposta à crise. No último mês, ele ganhou mais fãs do que em nove anos no cargo e atua como um contrapeso democrata ao presidente Donald Trump.

Pode-se dizer que o Covid-19 está para Cuomo assim como o 11 de Setembro esteve para o então prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, em 2001: tornou-se o rosto principal da pandemia. Em um dia, o número de casos saltou de 5.700 para 20.875 -- dado que o governador atribui à testagem mais sistemática dos moradores.

Diante da nova realidade, determinou que cada hospital e Nova York aumente a sua capacidade em 50%. “Diretriz obrigatória do estado: encontre mais leitos, use mais quartos.”

Diferentemente de Trump, Cuomo passa a sensação de tranquilidade no meio do caos, traduz explicações científicas com transparência. Não hesitou em trancar a população em casa, mas, ao mesmo tempo, suspendeu por três meses as ordens de despejos.

Aos 62 anos e no terceiro mandato, ele destoou do presidente, assumindo responsabilidades pela falta de testes e pelas rigorosas restrições que impôs aos nova-iorquinos.

“Se alguém estiver infeliz e quer culpar alguém, pode me culpar. Não há ninguém mais responsável por esta decisão.”

Suas aparições em entrevistas coletivas diárias tornaram-se populares pela lucidez e emoção com que detalha os piores fantasmas desta pandemia, sem ser piegas. Durante o isolamento, manda recado a Michaela, de 22 anos, uma de suas filhas. "Lembre-se disso. Essas frases de três palavras podem fazer toda a diferença: “Sinto sua falta. Eu amo você.”

Com a pandemia sempre como pano de fundo, tenta relaxar o clima pesado em embates fraternais com o irmão caçula Chris, âncora do “Cuomo Prime Time”, na CNN. Ambos são filhos do falecido governador de Nova York Mario Cuomo e sua esposa Matilda. “Em casa, você sempre violou o toque de recolher”, revelou Andrew. “Eu não gosto de seguir regras”, rebateu o irmão-entrevistador.

Trump e Cuomo protagonizaram um bate-boca pelo Twitter, depois que o presidente criticou o governador e comparou seu desempenho ao de colegas de outros estados, dizendo que ele tinha que fazer mais. “Eu tenho que fazer mais? Não, você tem que fazer alguma coisa! Você deveria ser o presidente”, respondeu o governador.

Não pensem, contudo, que a rivalidade entre os dois reverteu-se em prejuízos ao estado. O governador soube contornar a situação, substituindo a abordagem combativa e antagônica a Trump por cooperação e gentileza, conforme observou o jornalista Josh Dawsey, no “Washington Post”.

Cuomo acabou faturando elogios do presidente e a promessa de que o governo federal enviaria um navio-hospital com capacidade para mil leitos ao porto de Nova York.

A definição mais adequada ao governador veio justamente de Giuliani, o ex-prefeito que se transformou em controverso advogado de Trump: “O presidente assumiu claramente o papel de gerente-chefe de crise. Cuomo chegou ao nível de estadista.”

Por isso, não causam estranheza as vozes que defendem, tardiamente, seu nome como candidato democrata para enfrentar o presidente nas eleições de novembro.

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