Coronavírus

Por Fabiane Leite, TV Globo


Estádio do Pacaembu e Complexo do Anhembi recebem hospitais de campanha em São Paulo

Estádio do Pacaembu e Complexo do Anhembi recebem hospitais de campanha em São Paulo

Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz e da Fundação Getúlio Vargas calculam, com base em modelos matemáticos, que as cidades do Rio e de São Paulo podem registrar 16 mil pessoas infectadas pelo novo coronavírus em uma semana. O cálculo considera infecções com sintomas e sem sintomas dentro de um quadro que os pesquisadores chamam de "pior cenário": aquele em que há a ausência de medidas que restrinjam de maneira eficaz o contato social.

Os cálculos não tomaram como variáveis (ou cenários intermediários) as medidas tomadas desde a semana passada nos dois estados. Nos últimos dias, tanto Rio de Janeiro e São Paulo passaram a adotar medidas de contenção e isolamento social, como a quarentena. Nesta terça-feira (24), o comércio do Rio terá fechamento obrigatório e, em São Paulo, a quarentena atinge todo o estado. Além do governo federal, medidas de redução do contato social e mobilidade são de responsabilidade também de Estado e municípios.

“Ainda não sabemos como será a adesão à essas medidas e seu impacto no cenário desenhado”, afirma o matemático Flávio Codeço Coelho, da FGV-Rio. No trabalho, os cientistas destacam que essas são medidas que podem ter problemas de adesão, em razão dos altos índices de trabalho informal no Brasil. Participam do estudo especialistas de instituições do Reino Unido (London School of Hygiene and Tropical Medicine), dos EUA (Northeastern University) e da Itália (ISI Foundation).

Cenário sem restrições

A partir de um cenário sem restrições, eles também projetaram as rotas de espalhamento mais prováveis do Covid-19 para o restante do país.

Os cientistas alertam ainda que o Brasil já tem uma taxa de leitos por 10 mil habitantes abaixo da registrada pelos países da OCDE (Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento), o que pode de fato implicar em sobrecarga da rede hospitalar do país, conforme têm destacado o Ministério da Saúde, prefeituras e governos estaduais.

Nesta segunda-feira (23), o trabalho foi publicado como prévia (pré-print) em plataforma que reúne pesquisas ainda não publicadas em revistas científicas, ou seja, que ainda não foram revisadas por outros cientistas que fazem parte dos comitês de publicações.

Segundo o matemático Flávio Codeço Coelho, o trabalho já foi entregue ao Ministério da Saúde. “A ideia foi levar ao ministério informações científicas para embasar a tomada de decisões”, disse Coelho ao G1.

Circulação pelo Brasil

O trabalho também considera como será uma eventual dispersão do vírus a partir dessas duas cidades dentro do cenário projetado. O espalhamento do vírus a partir das capitais Rio e São Paulo deverá ocorrer via Brasília/DF, Belo Horizonte/MG, Porto Alegre/RS e Curitiba/PR, segundo os pesquisadores, que consideraram dados de mobilidade entre as capitais.

Em seguida, projetam uma segunda onda de casos, desta vez para a costa brasileira, atingindo capitais do Nordeste como Salvador, Recife e Fortaleza. Os cientistas preveem ainda que outras cidades atingidas serão Goiânia, Cuiabá e Foz do Iguaçu.

Disponibilidade de leitos

Em relação aos leitos, os pesquisadores enfatizam que a média de leitos para cada 10 mil habitantes entre os países da OCDE é de 47, enquanto o Brasil registra 22 leitos para cada 10 mil habitantes, com grande disparidade entre regiões.

Para os pesquisadores, a distribuição per capta heterogênea dos leitos hospitalares provavelmente causará uma distribuição desigual da carga da Covid-19 pelo país. “Consideramos todos os leitos, do SUS e do sistema privado de saúde, incluindo leitos de UTI”, afirmou Coelho.

Há cerca de uma semana, o Ministério da Saúde prometeu a distribuição de 540 leitos de UTI para os 26 estados e o Distrito Federal, atendendo solicitação dos secretários estaduais de Saúde. As vagas são parte de um pacote de contratação de 2 mil leitos de UTI.

“Até o final do mês todos os 540 leitos de UTI estarão disponíveis e funcionando nos estados. Os demais leitos ficarão disponíveis de acordo com a necessidade”, completou o secretário-executivo, do Ministério da Saúde, João Gabbardo.

A reportagem do G1 solicitou ao ministério informação sobre o impacto dos novos leitos na taxa de leitos por 10 mil habitantes, mas até a mais recente atualização desta reportagem não recebeu retorno.

Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!
Mais do G1