Por G1 SP — São Paulo


Comissão feminina se organiza contra assédio no carnaval dos blocos de rua em São Paulo. — Foto: TV Globo/Reprodução

O instituto Ibope Inteligência divulgou nesta sexta-feira (21) uma pesquisa que aponta que 48% das mulheres brasileiras declaram já ter sofrido algum tipo de assédio, constrangimento ou importunação sexual em alguma festa de carnaval pelo país.

A pesquisa foi feita pela internet e considera apenas as internautas que já foram em celebrações carnavalescas como blocos de rua, desfiles ou sambódromos, trios-elétricos, eventos em lugares fechados, etc. O levantamento foi realizado entre os dias 31 de janeiro a 6 de fevereiro, por meio de questionário estruturado aplicado em painel online.

Segundo o Ibope, as mulheres com idade entre 16 a 24 anos são as maiores vítimas e 61% delas dizem já ter sofrido algum assédio ou importunação nesses eventos.

Dentre as mulheres que declaram já ter passado por alguma dessas situações constrangedoras, 50% afirmam que foram vítimas de constrangimento verbal, enquanto cerca de 22% relatam que o constrangimento foi físico. Outras 28% declaram que as situações sofridas nesses eventos foram tanto verbais quanto físicas.

  • Números femininos:
  • 48% das mulheres já sofreram algum tipo de assédio, constrangimento ou importunação sexual
  • Dentre as mulheres que já foram assediadas:
  • 50% afirmam que o constrangimento foi verbal
  • 22% relatam que o constrangimento foi físico
  • 28% narram agressões tanto verbais quanto físicas

Delegada fala sobre o assédio sexual no período de carnaval

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Machismo

O levantamento do Ibope também mostra que comportamentos machistas estão presentes na festa popular entre os homens. Ao ouvir os internautas do sexo masculino, 29% responderam que uma “mulher que usa roupas ou fantasias curtas não pode reclamar se receber uma cantada”.

A afirmação machista apresentada pelo Ibope ganha apoio especialmente entre o público mais velho, segundo o instituto. Enquanto 61% dos jovens de 16 a 24 anos afirmam discordar totalmente da afirmação, 48% entre 35 a 54 anos concordam e 43% daqueles com idade acima de 55 anos também discordam que “mulher que usa roupas ou fantasias curtas não pode reclamar se receber uma cantada”.

Na pesquisa, o Ibope também apurou que 18% dos homens concordam que roubar um beijo surpresa de uma mulher durante uma festa faz parte da paquera. Isso significa que cerca de um em cada cinco homens acha normal a prática do "beijo roubado" sem o consentimento da mulher.

Outros 15% dos homens acreditam que é um elogio chamar uma mulher desconhecida de “gostosa” em uma festa, enquanto 9% consideram que segurar pelo braço é um jeito comum e aceitável de um homem abordar uma mulher em uma festa.

Quando questionados sobre o quanto conhecem a expressão “assédio sexual” e o “crime de importunação sexual”, que desde 2018 é lei no Brasil, os que responderam a pesquisa indicam estarem mais familiarizados com o senso comum sobre assédio sexual. Ou seja, enquanto 59% afirmam saber bastante sobre assédio sexual, somente 28% dos internautas brasileiros declaram saber bastante a respeito do crime de importunação sexual.

O Ibope também quis saber sobre a percepção dos brasileiros em relação às situações de constrangimento que as mulheres enfrentam durante o carnaval. Cerca de 55% dos internautas brasileiros homens e mulheres afirma já terem presenciado algum ato de constrangimento sexual em alguma festa de carnaval. 44% dizem já ter presenciado agressões verbais, 18% agressões físicas e 38% afirmam já terem presenciado agressões tanto verbais quanto físicas contra mulheres no carnaval.

  • Números masculinos:
  • 29% concordam com a frase: uma “mulher que usa roupas ou fantasias curtas não pode reclamar se receber uma cantada”
  • 18% homens concordam que roubar um beijo surpresa de uma mulher durante uma festa faz parte da paquera
  • 15% dos homens acreditam que é um elogio chamar uma mulher desconhecida de “gostosa”
  • 9% consideram que segurar pelo braço é um jeito comum e aceitável de um homem abordar uma mulher em uma festa

Dentre os diferentes tipos de celebrações carnavalescas, a pesquisa também indica que os blocos de rua são os que atraem mais foliões, uma vez que 28% dos internautas costumam ir em bloquinhos, resultado que alcança 35% na faixa etária mais jovem (16-24 anos). Há também quem prefira não participar de festas ou apenas viajar: 41% declaram não comemorar o carnaval e 16% aproveitam o feriado para apenas viajar com famílias e amigos.

De acordo com a gerente de atendimento e planejamento de consumo e serviços do Ibope Inteligência, Soraia Amaral, o Brasil ainda é um país com reflexos de machismo estrutural e preconceitos enraizados.

"O que percebemos são diferenças geracionais que destacam a conscientização maior dos jovens sobre o assunto, mostrando a sua importância no processo de desconstrução desse machismo estrutural. Os dados da pesquisa no contexto de Carnaval só evidenciam o comportamento cotidiano em relação ao machismo”, declara Soraia Amaral.

Campanha da Comissão Feminina do Carnaval de SP conscientiza foliões sobre assédio a mulheres durante a folia. — Foto: Reprodução/Instagram

Campanhas e ações

Por causa desse comportamento abusivo durante o carnaval, vários órgãos públicos pelo Brasil iniciaram campanhas de conscientização durante os dias de folia no País.

Em São Paulo, Comissão Feminina do Carnaval de Rua, composta por mulheres representantes de 60 blocos de rua da cidade, fizeram vários pedidos aos organizadores do evento para assegurar a integridade do público feminino. Entre os pedidos, a prefeitura da capital paulista criou 20 tendas de acolhimento de mulheres vítimas de assédio, que estão espalhadas pelos maiores circuitos do carnaval paulistano.

A própria comissão iniciou também uma campanha nas redes sociais para abordar o tema e conscientizar os foliões dos crimes envolvidos nesse tipo de abordagem durante o carnaval.

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) também lançou nesta semana a campanha “Pode ou Não?”, que aborda os crimes contra a dignidade sexual e suas penalidades. Os vídeos da campanha veiculadas nos canais de comunicação do órgão alertam sobre as penas previstas em lei em diversos temas, como o chamado “beijo roubado”, que pode caracterizar o crime de importunação sexual.

No Rio de Janeiro, a Defensoria Pública do Estado criou uma cartilha contra práticas machistas durante o carnaval. A cartilha já está publicada no site da Defensoria e também está disponível nas redes sociais. Segundo Flávia Nascimento, coordenadora dos Direitos da Mulher da Defensoria, o objetivo é facilitar o acesso da população às informações.

"Durante o período de carnaval, qualquer um pode acessar para obter essa informação. A mulher consegue, quando tem conhecimento dessas situações, explicar melhor o que está vivenciando e quais serviços ela deve buscar quando se depara com uma situação dessas", diz a defensora pública.

No Recife, a cantora Gretchen comanda a campanha da prefeitura que pede o fim do assédio contra as mulheres durante os blocos de carnaval da capital pernambucana. Com o nome "Lança tua braba, mulher, e faz o que quiser", a campanha tem videoclipe didático e bem humorado que ensinar o que pode e o que não pode acontecer na paquera (e na vida).

Gretchen comanda campanha que pede fim do assédio contra mulher no Recife

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