Uma militar sul-coreana que ingressou no Exército como homem antes de passar por uma cirurgia de redesignação sexual pediu nesta quarta-feira para permanecer nas Forças Armadas depois de saber de sua expulsão.

A Coreia do Sul é profundamente conservadora em questões de identidade de gênero, e as relações homossexuais entre militares ainda são consideradas crime.

Byun Hee-soo, sargento de 20 anos, alistou-se voluntariamente em 2017 e passou por uma cirurgia de redesignação sexual na Tailândia em novembro.

Tendo se tornado mulher, ela havia comunicado claramente à sua hierarquia seu desejo de permanecer no Exército. Mas uma comissão militar ordenou a sua expulsão.

Byun, cujo anonimato havia sido protegido pelos militares, decidiu quebrar o silêncio e apareceu diante da imprensa nesta quarta-feira.

“Eu sou uma militar da República da Coreia”, disse, em voz trêmula, na coletiva de imprensa.

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Ela explicou que servir no Exército era um sonho de infância. Mas também explicou que sofria de depressão devido a uma “disforia de gênero”, ou seja, um profundo sentimento de inadequação entre seu corpo e sua identidade sexual. Daí a sua escolha de fazer uma cirurgia.

“Quero mostrar a todos que, independentemente da minha identidade de gênero, posso ser um daqueles grandes soldados que defendem o país”, afirmou, segurando as lágrimas. “Por favor, me deem essa chance”, implorou.

O serviço militar é obrigatório na Coreia do Sul, onde o Exército é designado principalmente para proteger o território diante da ameaça do Norte. Todo homem apto é obrigado a servir por dois anos.

Um porta-voz do ministério da Defesa disse que Byun havia sido examinada em um hospital militar, que concluiu que a perda de seus órgãos genitais constituía uma deficiência mental ou física, o que levou a comissão a se reunir.

Em seu comunicado, os militares disseram que estavam determinados a evitar “discriminação ou tratamento injusto”.

O Centro Militar para os Direitos Humanos na Coreia, uma ONG com sede em Seul, informou que o Exército marcou a data efetiva para o desligamento de Byun na quinta-feira, quando ela deixará oficialmente o hospital militar.

“Isso mostra a determinação do Exército de não permitir por nem um segundo a presença de um transgênero no Exército”, denunciou Lim Tae-hoon, responsável da ONG.

Este é o primeiro caso do tipo na Coreia do Sul. Mas as associações há muito denunciam o fato que o sexo consensual entre dois homens continua sendo um crime aos olhos da lei militar sul-coreana.

E o Exército sul-coreano persegue incansavelmente os soldados que mantêm relações homossexuais. Nos termos do artigo 92.6 do seu código penal, conhecido como lei militar sobre sodomia, enfrentam dois anos de prisão com trabalhos forçados, se condenados por uma corte marcial.


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